PREFÁCIO

Na Saciedade dos Poetas Vivos vol 2, impressa (1992), escrevíamos no prefácio:

"Para organizar uma antologia não basta juntar pessoas, a esmo. É necessário convidar-se as pessoas certas, ou melhor, que certamente estão em sintonia, e gostar-se do material recolhido; depois, penetrar no espírito dos textos para poder escolher os melhores entre os melhores, de acordo com a proposta estabelecida."

Catorze anos depois vemos que não mudamos em questões de princípios. Reunir 17 poetas com propostas estéticas relevantes na contemporaneidade foi desejo nosso, desde que entramos na Internet, em 1996. Esse projeto tão acalentado, hoje vem à tona e nos sentimos muito contentes com a realização de mais um ideal.

A Saciedade dos Poetas Vivos marcou presença, na década de 90, por diversos motivos: o primeiro é que essa nossa Coleção sempre teve um tema, que funciona como “enredo”, com um elo estrutural entre todos os participantes, ligando tendências estéticas múltiplas. Diversas cabeças pensantes refletindo sobre um mesmo assunto proporcionam uma visão abrangente sobre o tema, mobilizando o leitor para diversos aspectos da mesma questão.

Em segundo lugar, tivemos sempre o cuidado de abrirmos o mesmo espaço para todos os participantes: seis páginas, democraticamente, para que nenhum se sobreponha pela maior quantidade de trabalhos; seis por quê? Porque achamos que essa quantidade de trabalhos já é capaz de dar idéia do estilo do autor, impossível de ser apreendido em um ou dois poemas apenas.

Em terceiro, optamos por qualidade, em vez de quantidade de participantes, são todos convidados especialíssimos. Decidimos por esse critério porque a idéia de que um livro circula mais quanto mais participantes houver não significa necessariamente que os poetas sejam mais lidos, porque a quantidade faz com que o livro pareça uma “massa de anônimos”, em que todos somem, ninguém se destaca e os bons autores ficam eclipsados pelos demais. Por isso a Saciedade dos Poetas Vivos tinha apenas alguns poetas escolhidos por nós em cada volume. Escolhemos 17 porque 8 significa infinito, e é isso exatamente o que esses poetas proporcionam: um infinito de idéias, debates, questionamentos diferentes, reflexões.

Finalmente, o título da Coleção - de autoria do poeta Eduardo Feijó Neto Machado - não é uma mera paráfrase do filme “Sociedade dos poetas mortos”. Diversamente, é uma paródia dele, uma crítica a uma política cultural que dá mais valor aos poetas quando morrem do que aos que estão vivos na atualidade, trabalhando para levar sua palavra ao público – o que gera uma imensa saciedade no sentido de aborrecimento, tédio e fastio, situação que só pode ser mudada com atitudes conscientes de nossa parte.

Comemorando os dez anos de Blocos Online, voltamos a ativar essa nossa Coleção, com a mesma orientação editorial, só que agora, em vez de impressa, digitalizada, e dentro do portal, porque Blocos Online é um dos maiores e mais importantes espaços literários na Internet, reconhecido inclusive pela UNESCO, com cerca de 3.000 a 6.000 leitores por dia, com cerca de 40.000 arquivos online e já próximo a 6.000 autores – nacionais e internacionais –, sendo mensalmente acessado por mais de 60 países, nos quatro cantos do mundo. Uma forma muito mais visível de 17 poetas aparecerem em cada volume, com todo o suporte de divulgação já montado por um dos portais culturais pioneiros na Internet.

Vemos duas vantagens de imediato: na publicação impressa, a tiragem era de 1.000 exemplares, portanto, um público estimado em mil leitores; on line , esse número de leitores quase que centuplica em apenas um mês, sem ser necessários gastos com remessa e riscos de extravio de Correio. O outro benefício da obra online é não ser vendida, portanto não exigir que o autor fique com exemplares em casa, ou que saia em campo para vendê-la, nem que fique à mercê da livraria, local não tão freqüentado como desejaríamos que fosse, e que, quando recebe obras em consignação, não as exibe. Se “a Internet é uma vitrine”, como se ouve dizer, então que todos apareçam de modo igualmente destacado, como cada um merece. Lógico que a cultura cibernética nunca irá substituir a impressa – o que queremos é que ela alavanque o livro. E nesse sentido, já temos alcançado ótimos resultados: Blocos Online já intermediou o contato de vários autores, por ele divulgados, com editoras comerciais, que só podem ter interesse em algum autor se virem, analisarem e apreciarem seus trabalhos; e a Internet propicia esse acesso, esse ingresso ao mercado, desde que através de um portal conceituado e portanto lido por editores, jornalistas, professores e intelectuais.

Estamos muito orgulhosos com a disponibilização desse primeiro volume da SACIEDADE DOS POETAS VIVOS DIGITAL porque, conforme escrevemos no prefácio no número 2 impresso, citado no início, "uma antologia que respeita autores e leitores também consagra seus organizadores". Temos certeza do sucesso absoluto dessa iniciativa não só pelos poetas que acreditaram e encamparam o projeto, como porque esse material, digitalizado, vai servir muito para pesquisadores, professores e alunos do MUNDO TODO, interessados em conhecer mais a poesia brasileira, tão rica de matizes, tendências e pluralidade de falas.

Dissemos e repetimos: "A Saciedade dos Poetas Vivos permite inúmeras leituras, mas todas direcionadas a um só alvo: a divulgação dos poetas vivos que só se saciarão quando houver uma sociedade em que todos forem poetas".

Urhacy Faustino e Leila Míccolis
EDITORES

Lançamento Oficial: 25/26 de outubro de 2006
Conversa com os autores on line: chat em 7 de novembro de 2006, às 20 horas


Créditos:

Capa: Vande Rotta Gomide
Título: Eduardo Feijó Netto Machado
Seleção de textos: Leila Míccolis
Webmaster: Urhacy Faustino

Cathia de Almeida
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Anderson Braga Horta

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