SACIEDADE DOS POETAS VIVOS DIGITAL - VOL. 2

LÁZARO BARRETO - Lázaro Valentim dos Reis Barreto nasceu em Marilândia, município de Itapecerica, a 06/01/1934, filho de José Valentim Barreto e de Isolina Gonçalves Guimarães. Viveu grande parte da vida em Belo Horizonte, mas reside desde 1966 em Divinópolis. É casado com Inês Belém Barreto com quem tem os filhos Ana Paula e Paulo Henrique. Em Divinópolis fundou e dirigiu (com amigos) os jornais literários AGORA e DIADORIM. Em parceria com Adélia Prado, publicou "Lapinha de Jesus" (Ed. Vozes, 1969). Tem oito livros publicados, e outro tanto participando em antologias. Mantém inéditos vinte livros, sendo oito romances, dois de contos, um de poemas, cinco peças teatrais, quatro de pesquisas sociológicas. Sua obra já mereceu três livros de estudos críticos, um deles, de Maurício Faria, é resultado de uma tese de Mestrado na UFMF.
Blog:
http://lazarobarreto.blogspot.com

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           Perdoe-me a inconfidência

Primeira viagem ao Serro

À memória do poeta Sebastião Benfica Milagre

     

           Ida Lupino

Obrigado, Drummond

As neves de antanho

 

OBRIGADO, DRUMMOND

Nos quarentas mil anos de arte moderna
procurávamos no mineral país de Itabira
aquela imagem retroativa e persistente
da folha verde dentro da pedra madura.
Procurávamos com as pernas as mãos as cabeças
  os  combustíveis para novas procuras de novas
  excitações.

Sabendo que é na prática do dia-a-dia
que reunimos os elementos dos sonhos,
sondávamos as grutas do Levante Espanhol e de Lagoa Santa,
na busca do papiro das ansiedades, da tábua das leis
(o livro-messe, palimpsético, que transborda da estante,
esparrama na casa e inunda a rua).
Insones e obstinados, procurávamos, procurávamos.

Ainda hoje a sede da vida está nos cabelos,
nos louros cabelos da fenícia Dido?
Não varre das almas para fora, ela me dizia,
ela é que dizia, a drummondiana poesia.
Os arraiais circundam as distâncias,
as sombras são os silêncios do sol lá fora.
E assim os mundos se arredondam,
nos arraiais que se universalizam:
não varre as almas para fora, ela me dizia
O amor é música: a resposta antes da provocação:
dois dedos de doçura
e
oito dedos de amargura.

Por mais que os sacerdotes escondem,
os erros de Deus aparecem nas entrelinhas,
— e quem nos penaliza sequer imagina
se podemos suportar tanto sofrimento!
A rua passa vários filmes ao mesmo tempo.
Quem chega primeiro à base do instinto,
  esse ganha o doce metafísico,
a farta e mansa chuva de versos
que semeia adeuses e caminhos.
Obrigado, muito obrigado, Drummond!
Lázaro Barreto
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Lázaro Barreto

 
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