Artur da Távola
     
 

Artur da Távola
entrevistado pela escritora Belvedere Bruno, em 2005.

Artur da Távola, meu grande amigo e incentivador. Agora é só Saudade... (9/5/2008)

Quando convidada a entrevistar Artur da Távola, senti grande satisfação, principalmente pela oportunidade de mostrar na internet este exemplo de homem público. Advogado, jornalista, radialista, escritor e professor, Artur da Távola sempre teve postura ética admirável, obtendo, assim, o respeito de todos que acompanham sua brilhante trajetória.

As gerações mais novas não conhecem sua história. Partindo de sua eleição como deputado constituinte em 1960, aos 24 anos, poderia nos dizer como isso influenciou a sua vida?

Deveras! Sempre me dividi entre o político e o escritor em um País com larga faixa de injustiça social. Sofri com essa divisão e sofro até hoje mas para sintetizar, sinto a política como dever (que cumpri) e a literatura como vocação, atrás da qual vivo a correr sem a alcançar em plenitude, jamais.

BB - Quando e como Paulo Alberto Moretzsohn Monteiro de Barros tornou-se Artur da Távola?

AT - Foi durante a ditadura. Voltando prematuramente do exílio, estava já de volta, quando estourou o golpe dentro do golpe, em 1968. O Diretor do jornal no qual trabalhava (Samuel Wainer, também cassado politicamente) aconselhou-me a não mais assinar as matérias com meu nome, Paulo Alberto e encontrar um pseudônimo. No mesmo instante veio-me à mente, como já estivesse decidido havia milênios (embora jamais houvesse pensado nisso) o nome Artur da Távola que grudou tanto em mim que hoje é heterônimo e não mais pseudônimo.

BB - Qual a grande lição obtida através de seu exílio?

AT - Aprofundar o meu conceito de democracia que me fez sair de um socialismo um tanto ingênuo e penetrar na social-democracia. O outro sentido foi o de verificar o quanto amo este País. E o terceiro foi aprender o significado real da palavra saudade.

BB - O senhor atuou no jornalismo televisivo por quase vinte anos. Como era o processo na época e como vê a televisão nos dias atuais?

AT - A televisão é uma caixa de contrastes. Na parte noticiosa cada vez melhor como amplitude de cobertura embora a trocar notícia como informação por notícia como espetáculo ou entretenimento. Aliás vivemos a era do entretenimento e do espetáculo. Cada vez é menor o espaço para o debate de idéias. Inclusive na política. Na parte de teledramaturgia é bastante desenvolvida. Fraca na programação infantil e nos canais de baixa audiência é uma lamentável exploração do grotesco e de anormal.

BB - Sua carreira como cronista em diversos jornais tem sido rica em termos de produção. Poderia nos dizer quantas crônicas já escreveu?

AT - Cerca de sete mil. Fiz esta conta pelos anos e não uma a uma. Adoro a crônica como gênero literário e seus não-limites.

BB - Quantos livros já publicou? Por que sendo um autor tão querido, há tanto tempo não vemos um lançamento seu?

AT - Vinte e dois impressos, e um "e-livro" recentemente lançado. Os 16 anos de parlamento e a política atrapalharam a minha literatura e as editoras de meus livros mais recentes os distribuíram muito mal. Livro mal distribuído é livro que não se lê. Por isso tenho me voltado para a Internet. Pode não ter repercussão intelectual, mas se dissemina, chega aos jovens e fica para o futuro como ato de gratuidade como o é a vocação de escrever. Mas de todos modos, livro é sempre livro. Estou com quatro prontos e ainda não procurei editor.

BB - Sendo o rádio uma de suas paixões, pode nos falar sobre os programas que apresenta direcionados a música clássica?

AT - Rádio é literatura oral que pode ser da melhor qualidade. Amo o rádio. Escrevo programas de música erudita e de música popular. E eu mesmo os apresento pois comecei a trabalhar em rádio há 49 anos, tenho prática de narração e minha voz não é feia. Posso dizer que conheço o ofício. E ademais levar música ao próximo é levar o bem, a universalidade, a paz, o consolo, a cultura, Vou arriscar um possível absurdo: o rádio, isto é o áudio, é a mídia não do passado mas do futuro a partir da miniaturização e da nanotecnologia.

BB - Tem algum projeto literário em andamento?

AT - Vários. O que me falta é tempo para impulsionar pelo menos cinco desses projetos, pois tenho que trabalhar para o sustento de minha família. Em 2004 fez 50 anos que trabalho. Deu-me isso motivo para fundo agradecimento ao Mistério que nos guia por meio de insondáveis mas perceptíveis desígnios, e uma felicidade interior que me faz, bem, ilumina e dá disposição.

BB - Na sua opinião, qual é o legado de sua geração?

AT - Lutar pela democracia no Brasil. Acho que vencemos.

BB - Deixe uma mensagem aos leitores.

AT - Não peça opiniões acerca do que escreve. A angústia sobre o próprio trabalho é a matéria prima do mesmo. Só ela o impulsiona. Consultar é desorientar a bússola do "si mesmo" (o "self" Junguiano), essa instância única e original que levamos dentro. Em vez de consultar alguém sobre o seu valor, leia, leia muito. Aprenderá por si mesmo, conseguindo assim ter um estilo, que é, de tudo, o mais difícil. Sugiro também fugir dos adjetivos, dos chavões e do excesso de "que" e de "eu" nos textos.

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