Moacyr Scliar
     
 

Moacyr Scliar
entrevistado pelo escritor Paula Valéria Andrade


Natural de Porto Alegre, nasceu em 1937. Médico especialista em saúde pública, é autor de mais de quarenta livros, dentre ensaios, crônicas, contos e romances. Alguns de seus livros foram traduzidos para vários países, como EUA, França, Alemanha, Israel, Espanha e Holanda. Sua obra obteve honrarias como o Prêmio Academia Brasileira de Letras, 1968; Prêmio Erico Verissimo de romance, 1976; Prêmio Guimarães Rosa, 1977; Prêmio Associação Paulista de Críticos de Arte, 1980; Prêmio Jabuti, 1988 e 1993; Prêmio Casa de las Américas, 1989; Prêmio Pen Club do Brasil, 1990 e Prêmio Açorianos, de Porto Alegre, em 1996. Destacam-se, dentre suas obras, os romances: A Guerra no Bomfim, O Exército de Um Homem Só, Mês de Cães Danados, Os Voluntários e O Centauro no Jardi . Desde 31 de julho de 2003 ocupa a Cadeira nº 31 da Academia Brasileira de Letras.

PVA — Quando você começou a escrever profissionalmente?

Moacyr Scliar — Comecei a escrever "para valer" com o meu primeiro livro, O Carnaval dos Animais, em 1968.

PVA — Do seu ponto de vista, qual é o aspecto mais importante da literatura brasileira atualmente? Por quê?

Moacyr Scliar — O que mais me chama a atenção na literatura brasileira no momento é a temática histórica. Isto em parte se deve ao merecimento do quinto centenário, mas acho que também faz parte de um processo de amadurecimento do país, que se traduz numa busca de seu passado para ali encontrar explicações da crise no presente.

PVA — Quem foram as suas referências estéticas mais fortes ao longo desses anos todos?

Moacyr Scliar — Fui muito influenciado por minha ascendência judaica, minha condição de médico de saúde pública e pelo engajamento politico da minha geração.

PVA — Quais são os autores que você mais admira? E compositores?

Moacyr Scliar — Autores que mais admiro: Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Franz Kafka. Compositores: Mozart, Philip Glass, Chico Buarque de Holanda.

PVA — Como se dá o seu processo de criação para um novo texto?

Moacyr Scliar — Parto de qualquer coisa: uma noticia de jornal, um fato histórico, uma pessoa que conheci, para daí escrever ficção. Se é um conto, escrevo de uma vez só; se é um romance, vou trabalhando aos poucos, às vezes começando pelo meio e pelo fim. E reescrevo muito. Escrever para mim é reescrever.

PVA — Conte-nos um pouco à respeito do seu livro, Sonhos Tropicais.

Moacyr Scliar — Sonhos Tropicais inspirou-se nessa fantástica figura que é Oswaldo Cruz, grande cientista, um homem que, por suas contradições, é uma síntese do Brasil. Como médico de saúde pública, e brasileiro, sempre me senti atraído por esse personagem de nossa história.

PVA — E os seus prêmios? Como é ser reconhecido como autor?

Moacyr Scliar — Ganhar prêmios é muito bom, ser reconhecido também, mas o principal prêmio, o principal reconhecimento deve vir de nós mesmos, da certeza de que estamos fazendo o melhor que podemos.

PVA — Qual o seu conselho para quem está começando a escrever?

Moacyr Scliar — Leia muito. Escreva bastante. Mostre para todas as pessoas que puder. Publique em todos os veículos ao seu alcance, mas não tenha pressa de aparecer em livro. Concorra a todos os prêmios. E não desanime.