AS ALMAS DAS CIGARRAS

As cigarras morreram... Todavia
Sinto um leve rumor tranqüilo e lento
Que vai, de ramaria em ramaria,
Lento e tranqüilo como o pensamento.

As cigarras não são, porque, outro dia,
Vi que soltavam o último lamento...
E o vento? Deve ser a alma do vento
Que entre os ramos das árvores cicia...

Entretanto o rumor parece eterno...
Agora que as estrelas se acenderam,
Vibra num coro, em serenata, ao luar...

Contam os lavradores que, no inverno,
As almas das cigarras que morreram
Ressuscitam nas folhas a cantar.

                                                                Olegário Mariano
                                                            "O Poeta das cigarras"