O Sapo

Feio e fátuo a fingir de grande, gordo e guapo;
Hediondo e humilde a inchar de empáfia e ocioso orgulho,
Viscoso de vaidade, entronado no entulho,
Cisma na solidão, sorno e soturno, o sapo.

Os bugalhos em brasa, a palpitar o papo,
Acocorado, absorto, ao mínimo barulho
Que o sossego lhe suste, em súbito mergulho
Se atasca no atascal; e ei-lo escondido e escapo.

Patriarca do paul, pelo pântano parco
De água, a arfar e a imergir no lodo liso e imundo,
O batráquio bubuia, o corpo curvo em arco...

E sobe à superfície o rei das rãs, rotundo,
Glabro e inchado, a coaxar no lamaçal do charco,
Como o ser mais soberbo e singular do mundo.

                                    Da Costa e Silva
                   (Amarante/PI, 1885 - Rio de Janeiro/RJ, 1950)
Do livro: "Zodíaco" (1917). Poema integrante da série Poemas da Fauna. In: SILVA, Da Costa e. Poesias completas. Org. Alberto da Costa e Silva. 3ª ed. , 1985, Nova Fronteira/RJ e INL/DF