O PAÍS É LARGO, CONTINENTAL, INFINITO

o país é largo, continental, infinito
te traz certo frio saber
vais traspassando os dias.
ora triste. ora dono de largo mar:
a felicidade que o sorriso traz.

o país tem dia e noite
calor e água, sede e cerveja, afeto e falta de
(pujança do belo, excesso de cobiça)
e pensar que pensavas ser impossível
ver-te sozinho, como agora
mordido pela seta afiada da saudade
mas estás só, ela distante
(ela de olhos sublimes; ela, a ética desatenta)
e nada, nada podes fazer,
a não ser passear
pelas ruas vazias
(desejando-as ermas)
ouvindo música atabaques berimbaus invisíveis
cantando fáceis canções
deixando, enfim, as folhas do mundo
crescerem mais
-- e, fartas de ti, explodirem
em carmes e luares pardos

o país tem noite e dia
e é largo, continental, sem-fim;
mil rodoviárias permeiam suas cidades e parlamentos
cheios de luze s desconhecidas
(nem deves pensar nos homens que atordoam
o povo, conchavando-lhe a vida nos gabinetes
da capital)

noite e dia
(talvez não fosse este o poema
nem estar dividindo
teu cotovelo ferido com os irmãos caymmi
devias)

não sabes: é só do que sabes
sem funchos ou orquídeas
teu coração navega,
irritado, voejando planaltos, cerrados.

                                                     Lafaiete Luiz do Nascimento

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