SÚPLICA

No verso,
destranco a garganta,
vomito a estupefação
que me come e me consome,
ante a volubilidade
dos que hoje nos comandam,
ante ética e moral
de tão metafórica fala
e dúbio, espúrio, sentido.
A lei,
que vale pra todos,
só alcança o mais singelo
e, se chega no castelo...
Vira lei fora-da-lei.
Quem entende o contra-senso...
Ou será que só eu penso?

No verso, destranco a alma,
alma tola que acredita,
que lei é coisa bendita,
coisa que ampara e protege
quem desde cedo trabalha
e não vive se enroscando
em cpi's de alegria,
em papéis de alegoria.
Ou coisas de pizzaria!
Se eu não escrevesse,
explodia,
qual rojão de são joão,
num réquiem obscurecido
pela ausência de fé na pátria
- que, por certo, eu sempre amo,
mas que de tanto enxovalho
por quem se julga importante
e nem nunca ouviu falar
no que sejam bons costumes,
ou no fio do bigode,
e só faz barbaridade -
hoje é razão de tristeza
pra todo e qualquer cristão.
Não quero essa pátria, não.

Eu quero o chão brasileiro,
povo gentil e brejeiro,
que sabe cantar Trem das Onze,
mesmo lá no Rancho Fundo.
Que diz, e o dito é sagrado,
e seu verbo é confirmado
num bom aperto de mão.
Gente que vive da roça,
e rega o chão do sertão
com sangue, suor e esperança,
mesmo a barriga sem pão.
Povo que faz romaria,
que louva Deus, noite e dia,
Deus te guarde, te acompanhe...
Tudo o mais, melhora,
um dia...
Essa Pátria é que a minha.
De gente simples, morena,
que vive a boa vontade
e traz no olhar a verdade
de quem só é, o que é,
sem sombras de pretensão,
vendo no outro, um irmão,
que merece amor e respeito.
Essa, é a Pátria do meu jeito.
Cansada de ser explorada,
de ser, por chacais, atacada,
e ter tão pouca defesa,
que ante a corrupção
ainda fica surpresa.

Meu Deus, a coisa tá preta,
não se agüenta tanta treta,
tanta abominação.
Socorre-nos, Pai,
sê por nós,
resgata a ordem e o progresso,
o horror impera, possesso,
no plano alto do congresso....
Êta nós, judiação.
A gente só quer emprego,
mesa farta, teto, escola,
a gente não quer esmola,
só se quer ser cidadão.
Sê por nós, Pai Soberano.
já nos cansou o desmando,
que dura, ano após ano.
Este é o Teu chão do Cruzeiro,
nosso céu tem Teu madeiro.
olha por nós, por inteiro,
olha por nós o ano inteiro!
Porque senão, meu Senhor,
se tanto mal nos abate,
a quem restará o valor
de vencer o bom combate?

                                   Patricia Neme

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