CIDADES BRASILEIRAS

VISITANDO MANAUS

          Para Arlindo Porto

Você, minha cidade, foi tão boa,
tão amável, sem nem me conhecer
quando eu vagava no seu seio, à toa...
abrindo os braços pra me proteger.

Você sabia? Creio que sabia
que eu era um "Arigó" que aqui chegava...
E você, cristãmente, me sorria
e até cantar cantou, quando eu chorava.

Aqui cheguei carente de carinho
e de logo a sua mão me abençoou:
e eu tive muito amor, tive outro ninho,
tive outra Mãe — a Mãe que me adotou.

Deu-me um leito, tirou-me dos retraços
onde estava a minha alama ainda em flor;
e ofereceu-me os seus morenos braços
como os braços de um Cristo Redentor.

Para mim era tudo um desafio,
um desafio, em tudo, tudo! Enfim,
o Rio Negro não era só um rio,
era um mundo de amor rolando em mim.

A ingratidão, de todos, é o pecado
maior. Deus não concede a remissão;
se fora embora o filho desalmado,
visitando-a espera o seu perdão.

                
                         ***


Olhando o céu, beijei Nossa Senhora,
para a beijar, também, com humildade/
já estou mais velho, a vida se evapora!
Vê-la de novo eu vim, minha Cidade.

Vim recordar de minha mocidade
tudo aquilo que a mei e guardei de cor;
— para matar, meu Deus, esta saudade;
— para voltar, talvez, muito pior!

Aqui vivi e amei... e fui amado
pela Princesa a quem beijei o rosto
e vi nascer minha primeira Flor!

Enunca houvera em versos consagrado
seu nome augusto, assim, neste eantegosto,
Cidade Nobre de meu grande amor!

                            Kideniro Teixeira

Do livro: Iluminuras da Tarde, Ed. Blocos, 2000, RJ

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