Viagem a Marrocos

          (para Zélia e Jorge Amado)

Na cara o vento sul
— Ou será o simum?
O balançar ondeado
Dos camelos.

Fez, Rabat e Cassablanca,
Terracota sutil de Marrakesh,
A cristalina fonte
Em meio à pedra.

Azilah, tuas sílabas
Adejam como aves,
Como asas roçando
Em minha face.

O meu deus é ninguém,
Morreu menino e é doce
Como um fruto,
Como as águas de Oxum
Lavando-me as feridas.

Guarda para mim,
Azilah,
Tuas tâmaras mais doces,
Mais secretas...

Um minarete escreve
Linhas tortas
No canto que se enrola
Pela tarde.

Cada um risco de giz
Meu caminho é um círculo,
As caravanas passam...

No regaço,
O cão, morto, não ladra.

                             Myriam Fraga

Do livro: Femina, Fundação Casa Jorge Amado (Prêmio COPENE de Cultura e Arte), 1996, Salvador/BA

« Voltar