CINEMA na literaturalogotipo

BAGDAH  COFFEE

Caía devagar...
Vagava lentamente a planar.
Lenta, a mente ainda pedia
que a escória desistisse da folia.
Bêbados e drogados
tragavam os restos dos copos semivazios.
Por cima das mesas, armas carregadas.
No palco a bailarina o véu rasgava.
O velho cartaz da porta reluzia: Bagdah Coffee.
Que ironia!

Que fosse ao infinito do arrepio
e de uma só vez assobiasse
o canto de quem não aceita a sorte
que sangra em Bagdá todos os dias.

De joelhos o mundo ainda há de ficar,
ao constatar tamanha prevaricação
do orgulho, da loucura, da ambição.
Vai implorar a Deus que não permita
a guerra mais infame do planeta.
(No céu só pássaros e  asas deltas.)
Que toda decisão seja sensata,
pois pau que ateia fogo, também assa.

Que sejam as tragédias evitadas
e a lama afogue a mágoa desgraçada.
Que o ouro negro jorre em outros poços
e a alma seja etérea até que nasça.
Que a fera imperialista
não perca a ética,
nem comprometa a  liberdade dos homens,
já conquistada.
Que o mundo complacente  se curve
à Boa Nova do seu próximo,
há muito tempo escrita e ensinada.

E, se me cabe um último desejo:
Carrega, Deus,
pro quinto dos infernos,
califas e belzebus amotinados.
Assim o mundo recomeça firme e forte
das brumas brancas deste  aprendizado.

Depois desta enorme bebedeira,
descalço meu sapato em terra ardente,
mas o canhão pesado me aponta e
num rápido delírio eu me salvo:
— Garçom acenda aqui o meu cigarro.
Wanna a coffee, please! Will not get to fall like
Bagdah did, someday.

                                            Claudia Villela de Andrade