Delito (*)

Apresento minha reflexão:
Poeira acumulada nos dias.
No passado contestei
a arrumação das gavetas,
e os artigos guardados de paz e guerra.
Só agora compreendo o motivo,
a ordem necessária para
que a vida possa fluir na terra.
No presente,
gavetas vazias.
Conteúdo a  ser reciclado
movimento do hoje
para que se salve o amanhã,
para que talvez não se veja
horizontes desabitados de pássaros
ou oceanos exauridos de peixes
natureza  num choro sem igual.
Plataforma de petróleo
em vez de banco de coral.
Quem ouvirá?
A explosão é iminente,
O sol se faz ardente,
nos queima  forte em buraco atmosférico.
A necessidade de arrumar gavetas persiste.
Insisto em retirar poeira, em lavar os pratos
Até que o detergente
devore o último traço de fome  existente.
Imagino os rostos distantes,
os estômagos rosnantes
de tantos necessitados pela terra.
Penso nas mãos que só alcançam o vazio.
Minha negligência.
Sou ré convicta
Culpada de tanto poluir,
De acumular entulho egoísta
De assassinar a fauna e a flora.
Da gaveta organizada
Retiro o papel e a caneta:
Em documento escrito
minha falta de defesa.
Denuncio a dor que infligi
E aceito assim meu veredicto:
Sou sentenciada a agir:
Minha indiferença
deixarei de uma vez por todas ir…

Sandra  Lira Rodrigues

______________

(*) N.E.: poema escrito originariamente em inglês e traduzido pela própria autora em em 13 de abril de 2010

« Voltar