O breu ferindo o arrebol

Eu vejo nuvens
Nuvens febris
Pontilhados cinzas
Incendiados rubis

Eu vejo nuvens
Nuvens de fumaça
No azul que se de(s)ata

E por todos os recantos
Em cada face, um pranto
Por caminho, desencanto

Eu vejo nuvens
Nuvens frias
Traços em melancolia

Olhares amargurados
Solidão em nua rua
Horizontes dilacerados

Eu vejo o tempo
Percorrendo os dias
Dilacerando o verde
Roubando a lua
Vencendo o sol
E nas sombras sob meus olhos
Eu vejo o breu ferindo o arrebol

E são longos os gemidos das águas
Desertificando a terra deslocada

E não mais vejo as nuvens
Nuvens ensangüentadas
Vejo o sangue dos olhos no espelho
E nas minhas mãos
E nas tuas mãos
E nas mãos sedentas
Que erguem-se
Pedem e lamentam
Perdida batalha
Aos pés da triste Gaia

Eu vejo resquícios
Resquícios de searas culpadas

                                     Tania Souza

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