SACIEDADE DOS POETAS VIVOS DIGITAL - VOL. 11

FLÁVIO MOTA - Nasceu em Nova Lima, Minas Gerais, em 08 de setembro de 1960. Formou-se em Letras, pela UFMG e lecionou Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, durante onze anos, em escolas públicas e particulares, até o ano de 2002. Desde 1997, atua profissionalmente como revisor de textos. Publicações: Para Casa. Belo Horizonte: Associação Cultural Pandora, 1997. (Coleção Poesia Orbital); Poemia. Belo Horizonte: Bandeirantes, 1983; Vozes da Terra. Nova Lima: Fama, 1981. Participou da Saciedade dos Poetas Vivos Digital – vol. 8.

Contatos: flamottanl@yahoo.com.br
Tel. (031) 3581 7461
Cel. (031) 8527 5897

Página individual de poesia em Blocos Online


           Oferenda

Áries/Virgo: Gêmeos

Extrato

     

           Composição enlatada

Outra manhã chuvosa

Esboço de poema concreto

 

COMPOSIÇÃO ENLATADA

para Carlinhos Brown

sob as bicas do telhado
solenes
e estrategicamente perfilados
os improvisados músicos

num extremo do palco
o grave e respeitoso balde
de acústica matéria plástica
(largo)

no extremo oposto
a emborcada bacia
e o desfigurado rosto
da velha panela
de escaldantes fervuras
e de fritar batatas
e oníricos bolinhos

nesse entremez
o pote de talco
e a achatada lata
do que diziam
“marmelada”
(adágio)

blão! blão! blão!
gravíssimo e trovejante
o percutível e tenebroso
caldeirão
a infringível frigideira
a chaleira que chia
e o convencido bule de bico
que assovia
a leiteira
(em falsete!)

discreto e aposentado
ex-astro da coxia
um sub-reptício penico
em incontinente choro
plim! plim! plim!
de urinol...

bendita seja
a água que goteja
e o afinado
inebriado e contente coro
das agudas latinhas
de cerveja
Antártica! Brahma! Bohemia!
Kaiser! Skol! Schincariol!
  (Sol!)
  (bemol!)
e de ervilhas, salsichas, sardinhas, quitutes,
milhos
e de extrato de tomate do elefante
  (lento andante)

ah!
a rósea tez
da laboriosa moça
do condensado leite...
longas lambidas
de filhos
incomparável doçura...
e o viscoso óleo
de soja
e o inconfundível cheiro da gordura
de coco...

latas... latas... tantas...
pratos, canecas, marmitas
e esmaltadas tampas...

enfim...
(presto)
senhoras e senhores,
respeitável público,
com vocês,
ela,
a pluviosa,
a redundante e surpreendente
Orquestra Sinfônica da Chuva
e sua fluida música,
regida pela competente batuta
do maestro vento
e saborosamente fruída
da janela
pela imensa plateia
de um só menino
que escuta
atento
(alegríssimo)

Flávio Mota
1  2    3    4    5   6

Flávio Mota

 
Voltar à capa da Saciedade dos Poetas Vivos nº 11