IN EXTREMIS

     Nunca morrer assim! Nunca morrer assim num dia
     Assim! de um sol assim!
                         Tu, desgrenhada e fria,
     Fria! posto nos meus os teus olhos molhados,
     E apertando nos teus os meus dedos gelados...

     E um dia assim! de um sol assim! E assim a esfera
     Toda azul, no esplendor do fim da primavera!
     Asas, tontas de luz, cortando o firmamento!
     Ninhos cantando! Em flor a terra toda! O vento
     Despencando os rosais, sacudindo o arvoredo...

     E, aqui dentro, o silêncio... E este espanto! e este medo!
     Nós dois... e, entre nós dois, implacável e forte
     A arredar-me de ti, cada vez mais, a morte...

     Eu, com o frio a crescer no coração, — tão cheio
     De ti, até no horror do derradeiro anseio!
     Tu, vendo retorcer-se amarguradamente,
     A boca que beijava a tua boca ardente,
     A boca que foi tua!
 
                         E eu morrendo! e eu morrendo
     Vendo-te, e vendo o sol, e vendo o céu, e vendo
     Tão bela palpitar nos olhos, querida,
     A delícia da vida! a delícia da vida!
 

        Do livro: "Poesias", Livraria Francisco Alves, 1961, RJ

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