Éramos Dois

Éramos dois.
Estávamos, ambos, à beira-rio.
Daquele lugar fitávamo-nos,
Fixamente, um ao outro,
Ignorantes do tempo.
Nossas vestes eram brancas.
Conversávamos sem conversar.
Você sendo tocada
Sólida e unicamente pelo vento.
Estávamos juntos.
Tão próximos quanto nos era possível
Mas não nos molestávamos...
Nossos corpos eram só corpos.
Corpos...
Lá estavam, apenas, por limite.
Seus olhos, seus olhos,
Verdes, como as folhas
De nossas anfitriãs, as árvores...
Seus cabelos, de um sol, áureos.
E corria a água
Por sobre um leito de pedregulhos
Multiformes.
Não havia pressa...
De um todo, éramos partes silentes.
Ainda assim, conversávamos. Conversávamos!
Não havia calor, nem frio, nem sede, nem fome...
Nem lascívia havia...
Éramos dois em um,
Éramos o êxtase de êxtases,
Éramos o que não somos,
Éramos ainda mais...
Éramos o de que se fala, se pensa, se arde,
Éramos o Nada.
Eu e você,
Dois éramos...

                                         Santino Antonio Fernandes Borges

 

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