PRESOPOEMA

Hoje, que desgraça farei:
mato o presidente
ou me proclamo rei?

Faço desvio de influência?
tráfico de (oh!)posição?
sinto alta a indecência
livre na contramão?

Meto a mão no fundo bolso
pesquisando uma rima,
tirando dinheiro falso
e dando-o ao cego da esquina?

Critico a "democracia"?
seqüestro meu país?
rezo o pai/pão do dia
sugando o infeliz?

Tisno-me de branco?
atendo o bicha num rogo?
procuro meu canto
ou vira ficha do jogo?

Reclamo do salário
ou peço minha demissão?
(Não tem garantia meu trabalho
nem fundos a rescisão.)

Hoje, que desgraça farei:
mato o presidente
ou me proclamo rei?
 

(Faço charada:
Envernizei um pouco
o homem público. 2-2)

Proclamo-me rei
ou mato o presidente?
(Alguma desgraça farei
durante a noite silente.)

Que faço da roupa?
(Eu não nasci assim.)
Que faço da pele?
Que faço de mim?

Pinto o sete?
Toco em banda?
Dobro o frete?
Vou pra Uganda?

Processo o modo general?
Condeno a (falta de) União?
(Pleito e/lei/mortal litoral,
promessa é treva e aguilhão.)

Torno-me criança em cabaré?
Elejo cavalo "Seu Dotô"?
Trepo morro pensando em muié?
Ponho barba preta no meu vô?

Sou preso residente
fé esporte sé nado
preso/e/dente
generalizado.

(Depois vieram.
Vou preso prum cubículo:
Salafrário!

E compuseram
o orgulho dum currículo
literário.)

Censurada a minha mente,
meu escrito.
Mas, conquanto rudemente,
tenho dito!

Edmilson Sanches

« Voltar