AO ANNIVERSARIO D'O LYRIO (*)
Inconcebível cousa este cruel martyrio
De revestir o inverno em tons da primavera:
Temo quebar num sopro as azas da chimera
E crestar no meu gelo as petalas do Lyrio.

Sonhos, sonhos d'amor que descendeis do Empyreo
Afugentae de mim toda a verdade austera;
Voltae-me ao coração, dizei-lhe que inda espera
Os encantos de outrora, o pristino delírio...

Mas não! Ressucitae, velha coragem leda,
Civilismo creador da heroicidade forte,
Que me tornaes, librando os elytros de seda!
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É a alma da Mulher quem desafia a Morte
E, da Vida, no mar sem trilho nem vereda,
Qual bussola segura, a ponta a Luz e o Norte!

                                                            Carlos Porto Carreiro
                                                                              Recife, 28 de Outubro de 1903

(*) Nota dos Editores de Blocos: soneto publicado em O Lyrio, revista mensal  de Amelia de Freitas Bevilaqua, nºs 13 e 14, novembro e dezembro de 1903 (Recife), em comemoração ao ano 2. Mantivemos a grafia original, não só como um enriquecimento ao estudo comparativo da língua, como também para que não quebrar a unidade terminológica, constituída de palavras atualmente em desuso, como o caso de "heroicidade" (heroísmo).

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