ZERO A ZERO

Este sertão zero a zero...
 Estas mãos que se parecem
galhos nus em prece ao sol.
Vazia, esta prece perdida
acerta a espera  com esmero
na fila dos que padecem.
Esta multidão zero a zero
aumenta as vezes no rol
do mínimo mútiplo comum
das penas da sobrevida
que dão asas à vergonha.
 Meus dois vales zero a zero
 nesta orgia de sol,
 nesta fartura escondida
 no canto do bem-te vi,
no canto do quero-quero,
no canto de muitos cantos
 nas mágoas do Mucuri
sulcos do Jequitinhonha
onde a  água é pedra e pranto.
No mapa da geografia,
o fim da cidade é fria.
Século e meio  zero a zero
meio mundo , mundo inteiro
um não quero, outro espero.
O trem parou em janeiro
 pra sempre, estação do empate
Desejo no despenhadeiro
cai, sem direto a resgate.

                                                      Elane Tomich

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