COMUM

Quero me incorporar ao gosto popular, na diária expressão
Livre de sublimes rótulos, pontos de exclamação
Decifrar enigmas dos guetos de paz
Dos bolos de fubá matinais
Da boneca de pano da menina
Da pinga do bar da esquina
Quero escrever da varanda prá além do cais
Pegar cacófatos da elite e da favela
E despejar no papel, como tinta na tela
Quero o simples, o reciclado, o suado, o vivido
A poesia customizada, de pé no chão, ao pé do ouvido
Porque sou circo, tapera, taverna
Não sou imortal, nem arte moderna
Só quero beber o chá na porcelana intelectual
E o café no copo, com sentido e banal
Me inspirar nos sotaques brasileiros da miscigenação
Com caco, discordância, improvisação
Morrendo de amores, chovendo no molhado
Cantando vitória no estádio literalmente lotado
Por a mão na massa, as cartas na mesa, fazer das tripas coração
Distante da terminante proibição
Porque sou mais estorvo do que Chico, sou o popular ditado
Invento no atacado, sou o tumulto generalizado
Sou feita da emoção psicografada de todas as Marias
Desatadas sangrias
Saudade de casa em quatro vias
Sou erro
Distante de Assis e do privilégio de alguns
Sou repleta de lugares-comuns.

                                                                                Maria Alice Penna

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