BOM INIMIGO, BOA VINGANÇA

Nada é inútil, no entanto: um inimigo
não é o oposto do amigo que convém;
é, voltado do avesso, um bom amigo,
e podemos até querer-lhe bem...

A amizade, alimento que bendigo,
freqüentemente a maus excessos vem,
e põe, não raro, a gente como um figo,
a arrebentar do miolo que contém.

O inimigo, ao contrário, rói e suga;
de humores doentes minha carne enxuga;
e, nessa eucaristia singular,

enquanto do meu ser ele se nutre,
vingo-me, em paz, do inofensivo abutre,
indo lá no seu sangue circular.

                                                                  Amadeu Amaral
Enviado por Glauco Mattoso

« Voltar