UM QUE SE LIBERTOU

       Um infausto acontecimento
       Tornou ainda mais
       Tensa e fria
       Nossa triste manhã.

       Um que nascera
       Apto para cantar,
       O trinado sempre calou;
       Um que nascera
       Ávido por voar,
       Ali, enjaulado e triste ficou;

       A liberdade,
       Ó, maldita sina,
       Um jamais experienciou!

       Nossa manhã, tão de repente,
       Ofuscada ficou.
       Quem tamanho eclipse terá provocado?

       Terá a sede dos dias
       Tão tenra vida secado?

       Terá a frieza dos homens
       O frágil corpo embalado?

       Terá a fome dos dias
       A muda vida devorado?

       A mão assassina de Cronos
       Tão apagada vida
       A nós terá revelado?

       Um que jamais voou;
       Um que jamais cantou;
       Um que não se libertou,

       Agora, sepultado, será
       Livre do prisioneiro amor.

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