Ao Longe os "Barcos de Flores"

            A Ovídio de Alpoim

Só, incessante, um som de flauta chora,
Viuva, grácil, na escuridão tranquila,
— Perdida voz que de entre as mais se exila,
— Festões de som dissimulando a hora

Na orgia, ao longe, que em clarões scintilla
E os lábios, branca, do carmim desflora...
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila.

E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,
Cauta, detem. Só modulada trila
A flauta flebil... Quem há-de remil-a?
Quem sabe a dor que sem razão deplora?

Só, incessante, um som de flauta chora...

            Camilo Pessanha
Do livro: Clepsydra, 1995, in "O Simbolismo de Camilo Pessanha", de António F. R. Oliveira, 1979, Portugal

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