O BANDOLIM

Nasci num dia triste... triste.... triste!...
Fim de Outubro, outono acizentado!.
Dizia a voz do vento: - vá !... resiste!...
Não entres neste mundo desgraçado!...

As árvores gemiam, desfolhadas.
A natureza punha-se de luto.
As sementes não estavam germinadas.
Na minha aldeia, fui único fruto.

A essa hora e à espera de mim,
Num dedilhar de cordas, magoado,
Ti Vicente, tocava um bandolim
Numa sala de espera ali ao lado.

Hoje, quando visito a minha aldeia
E olho o firmamento ao luar,
Uma estrela no além faz de candeia
E eu vejo alguém no céu a me acenar.

Essa luz ilumina-me os sentidos,
Chama por mim e eu fico inebriado
Quando sinto a vibrar nos meus ouvidos
O som dum bandolim desafinado!...

Humberto Soares Santa
Cotovia, 2006-04-01

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