VAN GOGH

Perco-me
nos Trigais cinzentos
de Van Gogh,
e eles cortam a minha garganta
como navalha aviada de um louco.

As Violetas móbidas,
sufocadas pelas cores mofadas,
assassinam borboletas negras.

E os Girassóis,
de antiga palidez amaela,
atravessam a alvura dos lençóis
do hospício
como ocasos sangrentos.

Van Gogh não dorme.
Desperta em seu Auto-Retrato,
com sua orelha decepada
por pinceladas afiadas.

Em suas telas
dorma uma paisagem cinzenta,
uma aurora outonal.

                              Ivan Santtana

Do livro: À margem de mim, João Scortecci Editora, 1996, SP

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