Eu sou quem sou. O resto não interessa.
Que me importa que falem do que faço
Porque quero fazer sem o embaraço
Daquele que só quer viver depressa?

Porque não falo, dizem que é cansaço
De acreditar no fumo da promessa
Que não teve princípio nem começa,
Para mim que sou Alma a andar no espaço?

Coitado do que sabe dizer tudo
Sem noção da ignorância que mostrou,
– Não gosto de enganar e não iludo.

Devolvo à humanidade o que Ela faz
Condenando a moral que Ela inventou
Para dar todo o mal de que é capaz.

                               António Botto

Do livro: "Ainda Não Se Escreveu" (obra póstuma), Edições Ática, Lisboa, 1959

« Voltar