Exéquias da soberana

Quem conheceu Sua Ex-celência, a Paz, soberana
de um reino tão longínquo quanto fictício?
Hoje a ex-rainha se esconde nos dicionários;
maltrapilha, faminta e em desespero
por entre as sombras dos muros
por entre os escombros derradeiros
dos prédios, das vilas, por entre envelopes de Antraz;
e com gestos temerários
mendiga por sobrevivência
aos pretensos donos do poder.

Respostas? Apenas lamentos e condolências
atestando a incoerência
de seres ditos humanos.
Terá algum deles a paz em seus planos?
Será ainda possível a ex-rainha sobreviver?

Há anos, milênios, aqui, ali, acolá,
nos reinos de Deus, Jeová ou Alah,
vivia a paz; hoje jaz
Seu cadáver enregela, moribundo
enquanto os donos pretensos do mundo
preparam suas exéquias
com bombas — falsos fogos de artifício.
estrondos e rebuliço
bradando em altos brados
[em nome da paz].

Apenas duas perguntas:
algum lado estará com a razão?
E a quem teria ela outorgado

                   procuração?

                                            Maria Esther Torinho

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