ESPANTALHOS

Quisera ter mil espantalhos
dentro de mim,
que assustassem
meus torvos sentimentos
e os lançassem
para fora do meu ser!

Há muito tento expulsá-los,
mas eles me sabem frágil.
Ilusórias pílulas de última geração!
Fluoxetinas, paroxetinas, sertralinas.
Uma sucessão de inas,
que apenas camuflam corvos esfaimados.

Desafiados, voltam ainda mais vorazes,
extraindo de mim, grão por grão,
a força, o ânimo, a alegria, o brilho.
Como numa revoada histérica, 
grasnam e zombam das sucessivas quedas
da minha pobre serotonina.

Dorcila Garcia

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