o poeta e as coisas

as coisas querem vazar
o poema
em sua crosta de enredos,

as coisas querem habitar
o poema
para serem brinquedos.

chove nas fibras
de alguma essência secreta
e o poema rasga
                         a arquitetura
do poeta.


                

TESÃO TELEFÔNICA

quando ela telefonou
me chamando de cadlo,
rosnando palavras obscenas
que até deus duvida,
tive orgasmo por telefone,
imaginando a sua peludinha ruiva
de seda e creme de maçã.

senti-a do outro lado da linha
se contorcendo de fogo e eternidade.
a cidade era noturna como o mistério
ácida cidade
de loucos e canos reluzentes.

fui mastigando o seu corpinho
com dentes de veludo
cada pedacinho de fêmea
envenenada de tesão.

quando o dia amanheceu
o sol invadiu minha janela
feito um pêssego em calda na manhã.

                                          Salgado Maranhão

Do livro: Punhos da serpente, Achiamé, 1989, RJ

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