OS BARCOS

Velhos barcos, entre as vagas marinhas
que ascéticos singrais dentro das brumas,
ah, quantas lembranças me vêm, algumas
vezes, causar estas saudades minhas?!

Sois do mar as patéticas ladainhas
rezadas sobre as rendas das espumas
se ergueis as velas, essas brancas plumas
com que varreis o céu pelas tardinhas.

Ao contemplar-vos o perfil umbroso,
esguio e altivo, sôfrego, nervoso,
deixando as angras — pouso nas procelas,

sei que somem no mar brancos estojos
de tristeza sem fim naqueles bojos,
e saudade sem par nas brancas velas.

                                                   Kideniro Teixeira
Do livro: Iluminuras da Tarde, Blocos, 2000, RJ

Voltar