SAPATO

Humílimo é o teu ofício.
No lodo de humanos mares
fluis tua dor, submisso.
No delíquio dos cadarços
o soluçar das palmilhas.
O couro ecoa os mugidos
maduros sobre as campinas.
Cascos, ruminadas marchas,
e o livre olhar metafísico.
Presa de inatingíveis teias
teu ser; e teu corpo atado
à âncora má dos artelhos.
Percorres infantarias,
os balés, as cosmonaves,
o compasso azul ou plúmbeo
mas frutíficas lamúrias.
Sejas roto ou cromo (espelho,
de ouro referência, lume?)

Sob a planta áspera dos pés
tudo te esmaga e confunde.
(Pisa em tues ombros o mundo.)

                                Joanyr de Oliveira

Do livro: Tempo de ceifar, Thesaurus Editora, 2002, Brasília

Voltar