As roupas

As roupas ficam inertes
à espera do fim do amor,
no começo da madrugada.
As roupas jazem escravas
à espera dos seus donos,
sem serem donas de nada.
Aguardam impassíveis
o momento de serem postas
na mala,
como um morto espera
o seu sepultamento,
sem se dar conta desse momento.
Esperam, dentro do armário,
o momento de serem usadas,
como os que ainda dizem
esperar o amor,
mas,
ao fundo,
já não esperam mais nada.

                                  Mara Senna

Do livro: Ensaios da tarde, Editora Coruja, 2012, Ribeirão Preto/SP

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