SAPATOS SOVIÉTICOS E CORAÇÃO CUBANO

Te vejo, velho, andando calmo por uma avenida
com teus sapatos soviéticos e coração cubano.
Não sabes nada de aberturas; tens um sorriso aberto,
cabelo de povo e uma cara de galego emigrado.
Dizes "pá lo que sea, Fidel" e queres viver,
todos queremos viver, mas há um momento
em que o calor faz apertar o sapato.

Sucede a qualquer um; sentas num banco
te descalças lentamente, sacas as meias velhas,
aspiras com prazer e o pé moreno emerge.

Não temas; não precisas olhar para os lados.
Não; ninguém está vendo
esses teus dedos anárquicos...


CEREJAS, MEU AMOR

Cerejas, meu amor,
mas no teu corpo.
Que elas te percorram
por redondas.

E rolem para onde
possa eu buscá-las
lá onde a vida começa
e onde acaba

e onde todas as fomes
se concentram
no vermelho da carne
das cerejas...

                              Renata Pallottini

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