Colcha Velha

Tropeçamos depressinha
nas voltas da própria linha
ensimesmando
renda antiga vai desfazendo
o tão antigo traçado
a flor de raios do centro

ponto de estrela rompendo
a sempre manhã bordada

Peroba tão forte ainda
não sabe o depois de amanhã
como pode? sem flor e renda
servir de cama e ouvido
ao corpo que lhe confia
o contorno claro de bicos
o beijo a dança e a febre
o crochê-segredo tecido

Foi verde sim o tapete
mesclado de riso e canário
florindo um dia
esse quarto

E agora passos recolhe
e à noite calado colhe
a franja frágil
de ontem
a poesia
desfiada
no chão.

           Beatriz Escorcio Chacon

Do livro: "Águas Emendadas", org. Neide Barros Rêgo, Editora CBAG, 1994, RJ

Voltar