O Lenço Dela

Quando a primeira vez, da minha terra
Deixei as noites de amoroso encanto,
A minha doce amante suspirando
Volveu-me os olhos úmidos de pranto.

Um romance cantou de despedida,
Mas a saudade amortecia o canto!
Lágrimas enxugou nos olhos belos...
E deu-me o lenço que molhava o pranto.

Quantos anos contudo já passaram!
Não olvido porém amor tão santo!
Guardo ainda num cofre perfumado
O lenço dela que molhava o pranto...

Nunca mais a encontrei na minha vida,
Eu contudo, meu Deus, amava-a tanto!
Oh! quando eu morra estendam no meu rosto
O lenço que eu banhei também de pranto!

                                              Álvares de Azevedo

Do livro> Obras de Manuel Antônio Álvares de Azevedo [Lira dos Vinte Anos (1862)], in Grandes Poetas Românticos do Brasil, prefácio e notas biográficas de Antônio Soares Amora, introdução de Frederico José da Silva Ramos, Ed. LEP, 1959, SP

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