VELHO SINO

Sino, que foste a unção desta remota aldeia,
Quantas vezes vibraste em teu orifício santo,
Ora exprimindo o riso, ora exprimindo o pranto,
No alto da torre, que, hoje, a ruir, mal te pompeia!

Quer te envola o clarão lustral da lua cheia,
Quer a glória do Sol, perdeste agora o encanto
De rir e chorar! Cismas, somente... E, enquanto
Cismas, em derredor de ti a ruína anseia...

Morres... Já não há quem os sons te restitua!
Ninguém passa. Agoniza erma e sombria a rua,
Na qual, outrotra, guiaste a tantos fiéis o passo!

Só te guia, hoje, o vento — hostil sineiro — quando
Raiva... Teu bronze, então, plange, abrangendo o Espaço
Como se fosse a dor dos séculos vibrando!...

                                                 Luís Carlos da Fonseca

Do livro: "Antologia da Academia Cadeira 18", org. Arnaldo Niskier, ABL, 1999, RJ

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