O JOGADOR DE FUTEBOL, HELENO DE FREITAS

A bola era a infância que inventei.
Rolava nos meus pés como uma estrela
na noite invulnerável que se atrela
ao campo deste tempo, desta lei

de flechas e alvo, gol em flor. Busquei
como quando menino o barco a vela
num lago, pelos lances se revela
o artilheiro com a sorte. E o que hei

de tecer, destecer entre os certeiros
passes, as cruzadas, rio veloz
no driblar avançando, nuvem, faro,

junto à defesa adversa, o chute arteiro
e o gol na rede, o sol então disparo.
É a infância toda que em mim toma voz.

                                                    Carlos Nejar

Do livro: 50 poemas escolhidos pelo autor, Edições Galo Branco, 2004, RJ

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