Eu, Xeque Mangue

Como é a vida, 
Como a vida nos faz vestir pele urdido
De materiais podres e o produto é a imagem que se quer
Que acreditam que se quer
Como eu

Eu que sou tão alto de boas maneiras 
Eu que sou baixo, e recuso ser anão
Eu que tenho dado mãos em forma de comprimento
E entendem que sou palhaço e quando mais insisto 
Mais palhaço sou

Tenho feito juros, me sobram acusações de ser aliado financeiro
Me assinam e me acusam todos os dias 
De ser xeque para todos os usos baratos
Tenho intimidade com Dinheiro
Mas de finanças só amigos, impostos pagos, em notas, e alguns trocos, 
Que me lembro 
Que por dinheiro sou capaz de ter pudor financeira
Como dói o bolso do meu povo, duas mãos a pedir, é a dor


Neste subúrbio, quando tomo a decisão de Ficar calado 
Sou incómodo, e desperto atenção do povo 
Sinto que a falta não é de mim é de um bobo, e de um palhaço
Mais que um palhaço, uma imagem de homem que não abdica na hora
Que a batalha é guerra e a guerra chama-se honra 
Consumo todas as derrotas nas guerras, e festejo todas as batalhas,
A desistência dos meus émulos vem por insistência minha, ai sinto que tenho em mim
Uma perseguição mas longa que a própria memoria,

Eu que observo neles todos o porquê do meu tamanho, quando a palavra é respeito
Por falta de palhaços 
Sendo eu da cabeça aos pés por mais esforço que faço 
Saio em três dimensões 
Clareio meio homem, 
Entardeço meio matéria para o riso 
Anoiteço como guarda da praça

Eu que ando pelos bancos 
Em busca de abonos e sou sempre sem préstimos
Eu que mesmo sem querer, guardo os bancos 
Quanto mais o tempo passa ganho idade como se IVA fosse
Matéria para velhice

Me tem acusado de ser chato sem saber 
Que de amor, entendo, a oportunidade é escassa como 
As mulheres que tanto aguardo para ser dona deste meu 
Triste coração, que clama aconchego de um abraço feminino 
Mesmo velha como a felicidade e o amor, 
Basta que saiba a dimensão da grande urgência 
Mais necessitado que a própria carência.

Eu que tenho declamado, trechos de telenovela 
Na praça, ruas, igrejas e dentro de mim 
Que tenho rezado a luz da vela
Orações de insistência que perdeu no caminho de casa e mesmo assim aceito
Aceito esta fé caduca como eu

Tenho sido criança, mesmo assim têm me negado 
Como se incapaz fosse a raça de nome xeque neste povoado de nome para fruta
Mesmo sendo raça, assim como eu, seria virtude,
Seria humanamente a humanidade
Eu, xeque, em tudo que eu faço que penso, já não vejo o meu destino 
Nos ventos ou nos ares que algum deus me envia 
O meu destino eu mesmo que idealizo 
Enquanto sou xeque de mangue
Sairá sempre de dentro de mim.

                                                Mário Loff

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