Me apanha

No dia que eu cair com a cara no chão
Me apanhem
Porque o coração desta velha ainda embriaga a vivencia
Eu não vivo, eu sobrevivo, eu convivo, com a vida, com a venda
Tenho fraco para a venda de mancara
A última venda do dia será sempre a venda do mundo
Ninguém compra o mundo
O trapo não se vende
É lixo

Por isso
Me apanhem

Se no clarão do sol me encontrarem a vender
Me multem, me multem por não ter esperado
A noite me apanhar
As noites da vila, tão silenciosa tão caída e tão virgem de ousadia
Por mais que imploro
Me apanhem. Antes da minha morte
Mais estúpida fica a noite da vila
Mais uma vez uma vida que passa sem, me apanharem

Me apanhem

O gentes da minha cidade,
Tão quieta, que não apanha, que não paga
Tão cheia de ferida, entre mim e a noite
Quem caiu? Caiu as finanças mascarradas
Que passam ao lado

Me apanha

Quando falta um pão, quando esse pão é palavra
Chamuscadas de odor de grogue e pneus
Gordurosos temperados com avenidas de diabetes
Enfileirada que se chama vida
Mi apanhem
Para não curvar feito um papel sem família
Neste chão que se chama
Tarrafal

                                                                                                              Mário Loff

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