O LOUCO
Perguntais-me como me tornei louco.
Aconteceu assim: um dia, muito tempo antes
de muitos deuses terem nascido,
despertei de um sono profundo e notei que todas
as minhas máscaras tinham sido roubadas
— as sete máscaras
que eu havia confeccionado
e usado em sete vidas  —
e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente,
gritando: "Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"

Homens e mulheres riram de mim e alguns
correram para casa, com medo de mim.

E quando cheguei à praça do mercado,
um garoto trepado no telhado de uma
casa gritou: "É um louco!".
Olhei para cima, pra vê-lo.
O sol beijou pela primeira vez minha face nua.

Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua,
e minha alma inflamou-se de amor pelo sol,
e não desejei mais minhas máscaras.

E, como num  transe,
gritei: "Benditos, bendito os ladrões
que roubaram minhas máscaras!"

Assim me tornei louco.

E encontrei tanto liberdade como segurança
em minha loucura: a liberdade da solidão
e a segurança de não ser
compreendido,
pois aquele desigual que nos compreende
escraviza alguma coisa em nós.

         Kahlil Gibran
         Enviado por: Fernando Tanajura Menezes

« Voltar