O Corneteiro

                                do "Chants du soldat"

O ar é puro, é larga a estrada,
Soa o toque da avançada,
E vão cantando os soldados,
E lá, no fim, na colina,
A massa enorme se inclina
Dos contrários enraivados.

O corneteiro é um valente
Que encara a luta fremente
Como caça de perdizes;
Ele viu muita peleja,
E tem o peito, que arqueja,
Coberto de cicatrizes.

Dirige sempre os combates,
Mas nunca ouviram rebates
Mais ferozes que os de então,
E ao som que a corneta lança,
Palpita n'alma esperança,
Coragem no coração.

E o largo esquadrão corria
Por entre a fuzilaria,
No seu ímpeto guerreiro,
Até que sopra o corneta
O sinal da baioneta,
E escalam todos  o outeiro.

Em dando o toque da carga,
Vem, reboando, uma descarga,
Mal ferido o derrubar,
Mas num gesto sublimado,
Assim mesmo ensanguentado,
Toca, toca, sem cessar!

O sangue cai das feridas,
Mas a mão que as tem premidas
A morte rretarda um pouco;
E dos sons alucinados,
Precipitando os soldados,
Toca, toca, como um louco.

Ei-lo, ali, no chão, caído,
Caído no chão querido,
No chão querido a sangrar,
E na boca ensanguentada
Colando a corneta amada,
Toca, toca, sem cessar!

Depois ele vê seu bando
Ir pouco a pouco avançando...
Depois ele o vê vencer...
Depois...se escuta um gemido...
O  seu dever foi cumprido...
Ele deixa-se morrer.

« Voltar