O dia em que fui peixe

“Como pode um peixe vivo
Viver fora da água fria?
Como pode um peixe vivo
Viver fora da água fria?
Como poderei viver,
Como poderei viver
Sem a sua, sem a sua, sem a sua companhia.”

Achei um peixinho morto
Na beirada da lagoa
Seu olhar era tristinho
Sua vida
Boa, boa...

Fiquei ali a fitá-lo
O dia era breve, breve
Pobrezinho do peixinho...
Não há quem a morte não leve...

Foi então que quis tocá-lo
Em uma carícia de despedida
Quantas cirandas brincara
Na tua curta, submersa vida?
Mas de repente...
Naquele momento emblemático
O peixinho deu um pulo
Dando uns saltos bem pro alto...

Seu lindo dourado
Assustou-me, reluzente...
Brilhou multicolorido, acrobático
Girando no ar velozmente.

O peixinho está vivo!
Como viver era mágico!
Vou jogá-lo lá no Lago!
Para seu destino aquático...

Ah... Devia ter um circo
bem lá no fundo do Lago!
Aquele peixe era um artista
Que deixara órfão o espetáculo!

(Um peixinho tão especial
Não devia ser ignorado
Ele deve ter deixado saudades
Em seu Reino Imaginário)

Porém de súbito quis
Tê-lo só meu em um aquário...
Senti uma emoção intensa
em meu pequeno coração equivocado
Gente grande deveria saber:
possuir é amar ao contrário...

Foi então que aconteceu
Algo muito extraordinário
O peixe falou comigo
Em um idioma muito raro

Seu olhinho, bem baixinho
Sussurrou no meu peito:
E se você fosse um passarinho
E fosse preso desse jeito?

Eu me pensei passarinho
Sendo o céu minha casa
Devolvi o peixinho para o lago
E fui-me embora
Que a vida ,

A vida passa, passa.

                    Cassiana Lima Cardoso

« Voltar