POSTAIS DO AZUL DO CÉU MAIS ALTO

I (ofertorium)

Ao menino doente
Da rua dos Cata-ventos
Deixo meu Sapato florido
E um botão pendente
Do meu primeiro vestido.


II (traquinices)

Na volta da esquina
Do velho Hotel Majestic
Ao me levantar a saia
(Aos não-poetas finge-se de vento)
Eis que me acena:
O menino-fantasma
O menino-quintana
O menino-poema.


III (lição)

Enquanto a primavera cruza o rio
E carrosseia a porta giratória do tempo
Nesse velório sem defunto
Nesse café sem açúcar
Nessa saudade que não passa
Nesse cigarro sem fumaça
No quarto do Hotel Majestic
O frio de setembro me abraça

Em meu sapato furado
Em meus esforços falidos
Em meu poema imperfeito
Em meus livros não lidos

Na foto o velho a sorrir:
“Ninguém é poeta de graça!”

E é tão azul e triste a Porto Alegre lá fora
E é tão puro o silêncio de agora.

                               Whalter Moreira Santos

Casa de Cultura, setembro/2003

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