M A N É

       (Paródia de José, de Drummond)

E agora, Mané?
A tinta acabou,
o papel acabou,
a inspiração acabou,
o mundo acabou!

E agora, Mané? Pois é! Fazer o quê?...
Você, que é poeta; que está sempre atento;
Que capta no vento, perdeu a caneta!
Já não pode escrever... sequer ler, você pode!
Ninguém te ligou... o carteiro não veio!
A hora "H" não veio... O dia "D" não veio!
O Dólar subiu... A Bolsa caiu...
E tudo faliu... e tudo dançou...
E tudo explodiu...
Teu mundo caiu!...

Teus cd's do Hermeto, sonetos, sonatas...
Tuas latas vazias... filosofias baratas...
Tua Bandeira Vermelha... tua telha de vidro...
Tua impaciência com as datas... com as horas...

Com a asa quebrada, já não quer ser gaivota...
Astronauta sem rota... nota fora da pauta,,,
Sente falta da flauta, da corneta idiota?
Estourou tua cota! Vai embora! Cai fora!...

Se vc soubesse que a liberdade é alta!
Se vc pousasse num aeroporto
Ou, se ancorasse... morto... em qualquer porto...
Se aterrissasse ou se decolasse!...
(Tome atitude, poeta!)

No meio do campo, manco, de muletas...,
Sem chance ou revanche,
sem muro chapiscado para se escorar!

Sem tempo ou espaço no teu fuso-horário,
VC marcha confuso, solitário, sem meta...
Um bebê de proveta... um careta... um otário!...
Quem te leva tão longe? Qual o itinerário?
Vc marcha, ordinário, ao contrário da seta!
Vc é de veneta!... E é tão arbitrário!...
Vc sempre se esconde na gaveta do armário!

É de outro planeta?... É interplanetário?...
Não aponte pro Céu! Só há ponte pro Inferno!
Não! Não conte os cometas! Zé Mané sem luneta!

Não! Não conte as estrelas!
Pois, Drummond, a mais bela,
Lá no alto do Estágio,
Há de olhar da janela! 
Que diria o poeta
Desse plágio, esse assalto?...)
E agora, poeta, para onde?
E agora, poeta?... Responde!!!


CANÇÃO DE NINAR

       (Paródia de Canção Amiga, de Drummond)

Eu preparo uma canção de ninar,
Em que meus amigos se identifiquem...
Meus inimigos se identifiquem...
E que sirva de sinal aos alienados...

Percorro uma via interditada
Mas, sei que não vai dar em nada...
Se são cegos, não vi!...
Se são indiferentes, nem percebi!...   

Minha ausência, suas ausências,
Formam uma ausência só...
Decoramos o Manual de Sobrevivência
E tornaremos ao mesmo pó!...  

Agora eu vendo ilusões pelas ruas:
Extra! Extra! Quem dá mais???
Mas, há um atravessador
Que diz que "O Sonho Continua!"... 

Eu preparo uma Canção de Ninar,
Que faça despertar os surdos
E adormecer os Soldados!...

                                Ivone Mendes

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