Hermes entre Elementos

                    Para Manoel de Barros

O que é essa criatura?
Um espírito nu, sem escândalo e nem pudor
emite sons semelhantes aos latidos de cães.
Pediu um punhal de prata para que cortasse
as amarras da eternidade.
Seu caminhar bêbado entre os desertos
de céu azul da Antártida e polo sul,
dos rastros marcados nas areias do chão
brotavam campos de papoulas
que os reflexos da lua coagulam o sono da noite eterna
longe da Terra e do sistema solar.
Fios de água congelada marcam a distância
dum caminho. Havia em seu peito uma enorme estrela de Salomão,
metamorfoseia um conjunto de cruzeiros em sete estrelas
entre outras coisas que juntava nos bolsos da capa transparente.
Por formas como pedaços de carvão, sapos, cadeados, chaves,
vidrinhos de guardar pregos, minhocas, pólvora, enxofre, etc. – coisas
que ensinavam a ser, pela dispersão da magia,
o mago interior, o demiurgo
como o silêncio após a tempestade de ciclones,
até que na boca da aurora, Hermes pôs um rubi e foi embora.
Fachos de luz branca lavavam as pedras que carregava.
Vagou sem tempo em nirvana elétrico.
Ganhou um grau de passagem em nova casa
do xadrez das estrelas,
deitando-se na porta do grande palácio de diamantes
do mesmo jeito que a corrente de um rio
flui em flamas para polir alguma rocha bruta.
Arbora o mercúrio nos quatro elementos,
um amálgama da árvore da vida.

                    Rubens Shirassu Júnior

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