Saudade é um parafuso
Que na rosca quando cai,
Só entra se for torcendo,
Porque batendo num vai
E enferrujando dentro
Nem distorcendo num sai.

Saudade tem cinco fios
Puxados à eletricidade,
Um na alma, outro no peito,
Um amor, outro amizade,
O derradeiro, a lembrança
Dos dias da mocidade.

Saudade é como a resina,
No amor de quem padece,
O pau que resina muito
Quando não morre adoece.
É como quem tem saudade
Não morre, mas não esquece.

Adão me deu dez saudades
Eu lhe disse: muito bem!
Dê nove, fique com uma
Que todas não lhe convêm.
Mas eu caí na besteira,
Não reparti com ninguém.

Quem quiser plantar saudade
Primeiro escolha a semente
Depois plante em lugar seco
Onde brota o sol mais quente
Pois se plantar no molhado
Quando nascer mata a gente.

                         Antônio Pereira

N. E.: Há na Internet, sites que dão como autores deste poema ou Raul Seixas ou de Luiz Vieira. Além de não ser o estilo de Raul Seixas, um comentário sobre o livro "O baú revirado do Raul", fala expressamente deste equívoco: http://pt.shvoong.com/books/183093-ba%C3%BA-raul-revirado/ ; quanto a ser de Luiz Vieira a confusão se dá por ter sido ele a falar este poema no programa do Raul Gil, como esclarece Gilberto Alves, na URL: http://forrobodologia.wordpress.com/2008/02/26/antonio-pereira-de-moraes-%E2%80%93-o-poeta-da-saudade/. De alguns sites também não constam a última estrofe. Pesquisando durante horas chegamos até a biografia dele, http://www.saojosedoegitocapitaldapoesia.hpg.ig.com.br/personagens.html , a qual transcrevemos em "mais informações sobre o autor".

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