FAVELA

A Senzala fugiu da Casa-Grande,
ganhou as avenidas
e subiu nos morros.

Em suas ruas estreitas,
rostos suados e pernas bem-feitas...
Todos correm apressados.

Em cada casebre,
velhos rugosos e rostos imberbes
procuram, dia a dia,
ganhar o pão e o chão.

Nem sol, nem chuva
nem a lei da gravidade
abalam a firme estrutura
desta pseudocidade.

Mil novos Quilombos
se erguem aos tombos
na chamada civilização,
com rios de asfalto
e palmeiras de plástico,
sem cor nem umidade:
São Palmares de verdade !

A Senzala mudou de nome;
batizaram-na Favela
que por nós vela,
do alto do morro.

Tornou-se Casa-Grande
e todos nós, restantes
nos transformamos na Senzala
da Cidade Grande.

                                        Marcelo Lopes

1º lugar no Concurso Prêmio Pérolas de Poesias, promovido pela Secretaria de Cultura/Prefª Munic. de Guarulhos, 2005, SP e 2º lugar no 1º Concurso de Poesia de São Bentinho, Prêmio Belarmino França, 2006, PB.

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