Especiaria

À espera submarina
do peixe-dos-terremotos,
ela sonha seus versos toscos:

alegorias escondidas
em margaridas sulferinas
e antigos signos mortos.

Lá no fundo do barco,
nos porões do que foi,
estão seus olhos de ontem.

Esses velhos marinheiros
repetem o fog sob os cílios.

Incrustados,
não reconhecem cenário,
pátria, ilha ou parada,
nem quando veem os filhos.

Com lentidão de sereia,
a mulher que desveste o espelho
à boca soma acalantos.

E guarda que nela se afoguem
outros lábios vermelhos,
inchados
de tanto prazer e pranto.

 Flávia Perez

1º lugar no XII Prêmio Cidadão de Poesia, 2009, Limeira/SP

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