VIDA

A vida, tenho-a como um bem precioso
que alguém depôs em minhas mãos, confiante
em que eu pudesse amá-la até o instante
de meu supremo e derradeiro pouso.

E, fiel ao meu destino, ébrio de gozo,
com o mesmo ideal de um cavaleiro-andante,
levo-a todo feliz, como um diamante
inimitado e por demais valioso.

Tento senti-la e compreendê-la um pouco,
sem, no entanto, buscar-lhe como um louco,
a luz de seus inúmeros segredos;

que a mim não me incomoda coisa alguma
que ela pareça um mar, lançando espuma
contra a serenidade dos rochedos.



Do livro Estrela D'Álva, in Hora Aberta (Poemas reunidos), org. Eliane Vasconcellos, Vozes, 2003, Petrópolis/RJ


VIDA

Mas a verdade é que penso
não na morte, mas na vida.
Na vida que se entreabre
ante os meus olhos atônitos
como uma rosa de fogo
queimando incenso nas pétalas.

A vida que a alma procura
no ardor da sede inefável
e que se extingue no aroma
que o vento leva e não traz.

A vida que chega e foge
sem madrugada e sem tarde,
fora demais possuí-la
tê-la entre os dedos, amá-la,
senti-la a cada momento,
depois perdê-la no tempo
sem conhecê-la jamais!

              Gilberto Mendonça Teles

Do livro: Planície, in Hora Aberta (Poemas reunidos), org. Eliane Vasconcellos, Vozes, 2003, Petrópolis/RJ

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