SONETO RANCOROSO [1013]

Dei chances, mas daqui por diante adoto
a drástica medida, e assim revido
pedradas que inda tenho recebido:
fui muito boicotado; hoje boicoto.

A prêmios nenhum júri me deu voto,
malgrado algum valor reconhecido.
Barrado por expor minha libido,
não saio, entre os colegas, nem na foto.

Agora, quem quiser me ler que leia
num livro ou na coluna da revista!
Ao vivo, ninguém mais me homenageia!

Palestra já não dou, nem entrevista,
e mesmo a lançamento de obra alheia
quem pensa em convidar-me que desista!

 


SONETO DO DESRESPEITADO EM PÚBLICO [1167]

Me querem num evento; marcam hora;
currículo, erregê, fotografia
e até nota me cobram; todavia,
ninguém me leva e traz nem assessora!

Me pedem isso e aquilo, sem demora!
Se esquecem de que um cego merecia
mais consideração! Burocracia
é para quem enxerga! Eu estou fora!

Não há, neste país, nenhum respeito
nem sopa ao escritor deficiente!
Assim, novos convites não aceito!

Não querem nos honrar: tratam a gente
apenas como um número, em proveito
do circo onde o palhaço se apresente!

                                                          Glauco Mattoso

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